domingo, 3 de agosto de 2008

Eu.



O tempo esta pingando.
As gotas correm uma pra chegar mais depressa que a outra.
Lançam-se para virarem névoa da consciência.
Nós as contamos, sem anotar.

Vivemos na planície lisa, mitigada pelos séculos
Mas lá ao fundo vemos a cordilheira
Vemos poeira fina, poeira branca de chuva vindoura
Tempestade sem som
Que inebria e apavora de dia,
Mas nos aquece e desperta o desejo noturno.

E terei de revelar:
Só se vive depois de se fazer
Essa lenta e dorida escolha:
E tu, que serás?
Contemplai os desenhos vivos
dos travesseiros macios do céu?
Ou vais jogar-te em peito nu
pra ver que eles não são mais que um punhado de léu?

Se ficares, os pingos do tempo
Cairão como cera inflamada em teu dorso
E as cicatrizes hão de te ensinar que
Viver para olhar é simplesmente
Olhar sem viver.

Se te jogas irmão, não há conjecturas
Não há sentenças, não há lições
Se te jogas ao fundo, só tu saberás
Que viajar no rio de Heráclito,
É saber que nada há para além
Daquilo que queres chamar “eu”.


Jaisson
Ago 2008.
(Correndo ao desfiladeiro)

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