terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Simulacros e Gramatologia



Havia perdido os referenciais naquelas noites. Nada do que havia lido ou perscrutado em toda a curta existência lhe fizera tamanho estrago. As indefinições que faziam parte de sua existência pareciam tornar-lhe ainda mais insignificante do que já era. Os copos pela metade, rasgos de papel, almofadas, artrópodes e a própria hermenêutica não lhe faziam sentido. Tamanha inflexão teórica lhe levara a uma reclusão que já durava dias.
As estruturas da razão não mais lhe apeteciam. Era chegada a hora em que deveria seguir seu destino e causar um estrondo na epistemologia. E possivelmente nos vizinhos também.
O mundo dos simulacros agora se descortinava perante seus olhos. Tudo aparecia como realmente deveria ser. Passou a não enxergar mais as pessoas; ele agora via apenas metáforas esvoaçantes, metonímias loiras e de salto, eufemismos com tatuagens... Quando certo dia uma rosnante onomatopéia urinou em suas calças, teve plena certeza de que Baudrillard tinha mesmo razão.
Passou a viver em um metacotidiano. E também ficou surdo. Não ouvia, pois os sons agora lhe apareciam como textos que pululavam no ar e se dissipavam como bolhas de sabão. Pontos de interrogação às vezes lhe escapavam, embora os de exclamação sempre tentassem aparecer antes mesmo das frases. Os gritos vinham em letras maiúsculas de caixa alta; os sussurros em itálico. Enfim, como já se dissera antes, o mundo humano se lhe revelava em sua mais pura essência. Intertextualidade.
As complicações realmente vieram quando passou a questionar sua própria faculdade de questionar suas faculdades. Não porque achasse que ela fosse falha, mas porque não poderia achar nada. E se não achasse nada, na verdade nem mesmo seria um questionamento e, portanto, nada teria sido questionado. A situação se agudizou e as agonias eram cada vez mais implacáveis. A motricidade foi atrofiada e já não emitia nenhum som. Levantar-se da cama aparecia como uma tentativa vã de legitimar uma suposta lei científica gravitacional, que nunca existira, a não ser como um constructo simbólico afirmado por um pretenso cientificismo etnocêntrico. Parecia debater-se entre o ser, o nada, e os farelos de bolacha em cima da cama.
O estrago que aquelas páginas fizeram foi definitivo. Não sobrara nada. E mesmo o nada parecia mais destituído de sentido que o próprio conceito que lhe constituía. Antes de chegar às últimas páginas da obra, tudo já estava acabado. Nem chegara a morrer, porque na verdade nunca existira, senão como auto-imagem representada metalinguisticamente numa realidade incognoscível. Estava desconstruído. Desta vez, Derrida indubitavelmente havia chegado longe demais.


Homenagem ao pós-modernismo.
Jaisson.
(Out 2007)

Canção do Céu ou a história de um coração universitário


Tão radiante quanto arredio, o garoto pôs seus pés pela primeira vez na rua que o veria crescer. Os poucos metros de comunhão entre a “Astrogildo” e a “Professor Braga” são quase como um espaço litúrgico no centro de Santa Maria: ali as almas se cruzam em ares estudantis, sob a sombra infalível de dois lendários prédios dessa cidade cujo sobrenome é UFSM: a Antiga Reitoria e a Casa do Estudante. É neste acanhado quadrante urbano que o sol no centro do estado racha a pino, o vento norte faz suas costumeiras curvas e é também ali que fica depositado um sopro da alma de cada vivente que resolve cruzar o célebre arco celeste. Mal podia ele imaginar que este diminuto cruzamento de asfalto e pensamentos vaporosos lhe mostraria tantas faces deste mundo do qual quase nada conhecia.
Alguém lhe disse que aquela casa se chamava CEU (ou “Casa do Estudante Universitário”). Impossível não deixar escorrer o trocadilho: não poderia haver desafio maior que morar no Céu. No velho fusca cinzento do pai as malas disputaram espaço com o colchão amarrado e o inseparável violão por quase duzentos quilômetros a fio. Tão logo tudo estivesse descarregado no opaco chão de ladrilhos xadrez do hall, restariam apenas duas certezas perenes: o sono daquela noite seria tão indelével quanto as lágrimas do velho, que precisava voltar pra casa.
Naquele Céu não havia muitos querubins. Mas os maiores amigos que se podia ter estavam ali, e eram tantos e peculiares os sotaques e trejeitos dos que viviam naqueles apartamentos de seis-por-seis! A Casa do Estudante é cosmopolita. Naqueles frios corredores, Beethoven nunca teve maiores pudores em desfilar as notas indomáveis de sua Quinta Sinfonia em dueto com compassos fremindos da voz de Jim Morrison ou no embalo de alguma rancheira amorosa. Heidegger dissecava a condição ontológica do Ser sorvendo goles do seu mate aos domingos. Um alegre “bom dia” para a vizinha e seu pequeno jardim suspenso de begônias! E no fim da noite uns cortejos de violão no oco sabor das entreportas.
Mas voltemos ao nosso herói. As madrugadas, o garoto as dividiu calmamente entre as pilhas de livros, algumas notas desencontradas na guitarra, poesias baratas de bolso e as canções de sexta à noite, da famosa “Boate de DCE”. Na Velha Casa, aprendeu a cozinhar e lavar, abrir tomadas, usar massa corrida; aprendeu na prática as leis da dinâmica e da eletrônica; estudou um pouco de filosofia alemã e de bossa nova e saiu até arriscando alguns passos de forró. Descobriu ali que as mulheres são tão geniosas quanto sublimes; que não se deve fechar totalmente as janelas nas noites de minuano e que o Tempo é mesmo um sinuelo desgovernado a pastar pela noite. Há momentos na Casa do Estudante em que se pode ver que ela é feita não só de areia e tijolos (muito frágeis, por sinal): suas paredes só se mantêm em pé porque têm o dom de guardar intactos os ecos dos gritos de cada geração que por ali passa. São vários tempos que se mesclam e se interpelam diariamente, porque cada canto da Casa é uma espécie de templo. Ela guarda, debaixo das vigas, estórias e histórias, virtudes e prazeres, proezas e dolos. As pinturas e as frases toscamente cunhadas no véu das paredes e muretas são mestras sapientíssimas, a recitar diariamente muitas e essenciais lições. Alguém um dia disse, sobre isso, que a mais pulsante de todas elas continuava sendo o próprio amor...
Malgrado fossem já tempos modernos, às vezes o rapaz ouvia alguém datilografando, ou ao menos pensava que ouvia. Foram várias as conversas com as velhas basculantes do 6º piso, conselheiras anciãs que jamais lhe negaram conselho e de vez em quando até um pôr-do-sol venturoso, pra lhe encher o peito de paz em épocas turbulentas e não o deixar esquecer que ali ninguém deveria, jamais, parar. Aquele Céu de cor desbotada continua sendo um relicário de paixões e medos universitários. Um dos maiores medos – que estudante nunca experimentou tal temor? – era o de ver os sonhos desmoronarem. Talvez isso ajude a entender porque tanta gente temia que a Casa um dia viesse a cair. A cada ano que passa, o vento norte trava batalhas de morte com aqueles alicerces; e dentro de cada quarto, os corações universitários reproduzem essas pelejas, em campos de incertas expectativas sobre o futuro.
Certo dia uma parede perdeu uns rebocos no prelúdio da madrugada. Alguém saiu gritando que tudo estava pra cair. Os gritos histéricos foram a trilha daquela gente pulando escadas às pencas. Alguns choravam de desespero. Outros conjecturavam. Um estudante de filosofia pôs debaixo do braço sua raríssima edição de “Fédon” (traduzido direto do grego) e desceu perplexo. A Casa foi evacuada. Bombeiros faziam medições com os olhos e até um engenheiro apareceu. Seria um sinal de que Deus chegara ao limite de sua paciência e mandara a famigerada tempestade para destruir a Torre de Babel?
O experiente engenheiro não titubeou: “– Foram só uns pedaços de reboco gurizada! Voltem a dormir que essa casa ainda vai ser lar dos filhos de vocês!” Até hoje se duvida que alguém tenha conseguido dormir naquela noite inusitada, do último semestre em que morou ali. Bem no final não faltou alguém pra gritar entusiasmado olhando pro firmamento, como que falando com alguma divindade: “– Isso aqui balança viu, mas não há de cair jamais!”
Levemos ou não em conta essa profecia em forma de berro, é preciso reconhecer: não só a Casa não caiu como ainda está firme e de pé (como a maioria dos sonhos dos que ali se formaram). O garoto (que nem era mais tão garoto assim) saiu dali duplamente graduado. Um diploma de historiador devidamente carimbado e assinado. E outro, leve bosquejo de recordações e peripécias, um diploma de vida registrado com a tinta dos dias na memória. As mesmas malas que lhe trouxeram até ali, depois de meia década voltaram a pisar no tabuleiro do hall. O pai voltou a encostar o carro no meio-fio da “Professor Braga” e desceu. Fitou com um olhar cético o velho prédio e por alguns segundos continuou contemplando-o, como um herege que volta a sussurrar graças diante do altar. Balbuciou duas ou três palavras indecifráveis e abraçou o filho. “– Vamos rapaz, tua mãe tá ali no carro esperando”. E tudo virou um silêncio matreiro, um zunido de vento, e um olhar no retrovisor. E lá no fundo um tipo franzino e sorridente entrava no prédio, uma mochila cheia nas costas e um colchonete desgastado a tiracolo (quem sabe para a primeira noite de mais uma página de vida no Céu).

Jaisson.


Crônica que ficou em 3º lugar na categoria egressos do 4º Concurso de Crônicas “A UFSM na sua história”, do Projeto Volver-UFSM. Prometi publicar aqui quando ela saísse também no livro.


sábado, 6 de dezembro de 2008

Ser eu


Sou a brisa
Que incerta abraça
Voa à beça
A vida caça
Em brasa deserta
Esfumaça.

Sou amargo canto
Em canto esparso
Soluço etnocêntrico
Em verso esperanto
Reencontro
Do concentro
Desencanto.

Sou ócio aceso
Incúria seca
De sossego,
Doce insípido
Cisto em seda
Cego soberbo
Acalento sem medo
Fleuma, sem época.


Jaisson.
Dez. 2008

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cântico da Noite I

Tu que vives a claridade dos dias
Como um doce de clara-de-ovos
Não sabes o que é carregar a maldição
De ser a coruja infame dentre os pombos.

Quando a noite cai,
O sereno encandeia e borbulha
Minha mente acorda do sono
Da vida morna que se vive de dia.

A noite, envolta em seu pano roto, é mulher sedenta
Que vive de mendigar migalhas
Dos pequenos faróis, lustres de calçada,
Calejados isqueiros que acendem cigarros
E queimam os olhos das gentes de bem.

A noite é o desequilíbrio necessário
Ao equilíbrio injusto dos homens
Que a renegaram a ser a eterna dama-de-ninguém,
Confidente daqueles que a vencem dormindo
E eterna carcereira daqueles que a tentam comprar
Com lascívias, embustes, tocaias e perversidades.

E quando o Deus dos homens de bom coração
Fez o mundo (que era todo escuro, dizia o antigo aleive apostólico)
Tomou a primeira atitude burguesa da história:
Criou a luz, e separou-a da escuridão!
(e viu que a luz [e certamente só ela] era boa...)
E gastou sua inspiração para que tudo só fizesse sentido de dia
E a noite virasse o aterro privado
Dos sonhos que nunca serão reais,
De estrelas que nunca serão o sol,
De vidas que nunca haverão de ter virtude.

Por sorte a criação sempre supera a criatura,
E quando depois de seis dias Deus dormiu
Surgiram os poetas e estes inventaram a dialética.
E desde então Deus faz o possível para extingui-los
Por que estes ousaram criar coisas
Que eram mais eternas, vivas e verdadeiras
que todas aquelas que ele mesmo havia criado.

Daí então fez descer sua praga cheia de ira:
A cada verso que um poeta fizer nascer
Uma coruja furará um dos olhos da noite
Enterrando portanto uma estrela para então nutrir a penumbra.
Mas eis que a dialética (que os poetas haviam criado)
Resolveu fazer da maldição uma dádiva:
Quando se apaga uma estrela, a escuridão se fortalece
E mais um poeta nasce, porque poetas nascem na noite
E a noite renasce soberana a cada rasgo lírico que aporta o mundo.


(Continua...)


Jaisson.
Poeta. E Noite.
Nov. 2008.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Poesia que passa

Um dia o poeta
Abrigou o mundo
Na eterna e espessa tinta.
(que embebia sua alma)

Mas suas cores
Encontraram o Tempo.
Tudo virou palidez habitual.
(Alma também envelhece)


E eis que então:


Os estridentes clarins
cantarolaram o hino do pretérito
O poeta então reviveu a si próprio
(Não mais pintou, aprendera a cantar)

Mas a vida passará
Não há remédio que não a canção
Suas cunhas, ecos e rimas no mesmo passo
(Também passarão)




Jaisson
Nov. 2008.


sábado, 15 de novembro de 2008

Pequeno paraíso de mim mesmo



Contemplei o céu
No dia de todos os santos
E o santo do meu dia
Batizou meu mundo: Alethea

O tempo se desvelou
desvendou o segredo da tua dança
e cada delicado passo
Ritmou meu minueto.

No meu país não tem refrão
Não há seguidores
Todo mundo aprende sonetologia

Lá as leis são feitas de versos
O trigo cultivado em colcheias
E o amor canta no violão.



Jaisson
Nov. 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Dialética do maior amor

Este não é um poema de amor.
Já há muitos e tão mais belos nesse mundo!
Sublimes como este nunca será.
É um poema sobre circunstancialidades
Do querer possível:
Querer olhar sem a queimadura do toque
Beijos sem a tempestade de instintos
Palavras trocadas no vácuo
de uma noite repartida em mil pedaços.
Doar-se como a onda que viaja no Oceano aberto
E ver a felicidade como espelho da satisfação
De outros olhos
Que não os teus.
Criar um mundo vivo
Que não pára de mudar
Gira, gira e se rebela
Ser a nascente da metamorfose
Guiando um rio que vai correr
Por entre o espaço suado do laço feito das nossas mãos.
É a fagocitose do medo,
Que se faz a dois
O desterro do cotidiano
Redescoberto com a lembrança das primaveras
Temperado com o som do galope febril
De dois corações confidentes.
A estrela da manhã em pose desnuda
O caldo cinza do resto que sobrou da noite
Escorrendo açucarado pelas cordas firmes
Do nosso querer sempiterno.
A marca insolúvel de um compromisso sem leis
Sem contrato ou hora marcada
Assinado por duas almas
Que cuidam uma da outra
Sem cobrar.
E transformam o mundo
Dando corda na sua verdadeira engrenagem.

Jaisson.
Inspirado por um amor sem circunstâncias.
Nov. 2008.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Brumália

Teus sonhos me acariciando
É o querer submerso,
De um encontro num beco suburbano,
Ou um abraço do tamanho de uma noite inteira.

A arte da semelhança
É o paradoxo do desejo quieto,
A união do teu semblante e do meu soneto
Ou o beijo-epicentro do turbilhão-amor.

Imito as manhãs e os momentos de partir
Enredado em cada gesto
Dos teus lençóis.

Interrogo certas impressões do cotidiano
A névoa rala do dia só quer saber
Em que instante vai se fazer o lugar do teu rosto em mim?


Jaisson
Out. 2008
(foi na hora em que eu te vi.)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Epílogo ou Canção do Recomeço



Lá debaixo do candeeiro da vida
Pode se ver o amor em seus trajes tradicionais
(De veludo em tons de alvitre régio).

Passo escasso, fino respiro,
Olhos pesados e sempre fechados
De arguto espião em busca de corações desavisados...

(é bom querer amar?)

Certa feita arrebatou um andarilho
De alma calma e quixotesca
Tão precisamente serôdio quanto a noite.

O sujeito se maneou nos estribos
La dulce Dulcinea era um horizonte no ocaso
Toda a paz do mundo ele bebeu de um trago só.

(que lucra um homem ao amar?)

Era ruidosa primavera chegando
Mas o aporte temporão desaguou na abóbada
Quantas pétalas ele iria lançar?

A paixão é caborteira
Uma lady viçosa que não gosta de envelhecer
E que antes de ser senil, prefere fenecer.

(Amor não se permite extração de mais-valia)

Seus engenhos são uma maquinaria dialética
E o grande mistério sempre se apronta:
O crepúsculo nunca tarda a chegar.

Porque a precondição para saber-se feliz e amado
É ter vagado muito campo afora
Em dias de agrura e solidão.

E nisso tudo vale uma constatação,
Para com o amor há três opções:
Abandone-o e serás pedra;
Abrace-o e serás poeira.
Chacoteie-o e serás sempre a tenra esperança da canção.

E o herói fidalgo reatou as cordas do laço
Bateu contra
o vento o estilhaço
E encerrou por ali sua melhor conclusão sobre o amar.

(O maior prejuízo foi o lucro)



Jaisson.
Out. 2008.
Em homenagem às empreitadas quixotescas de um amigo que conheceu as artimanhas do amar.

domingo, 21 de setembro de 2008

Romance celeste, talvez de céu, talvez de mar, talvez razão de ser...

Um romance não é um encontro
Encontros e desencontros fazem parte do viver
Um romance é a vontade inexpungível
De saber por que o céu e o mar são azuis
De saber por que a vida acaba,
Já que há tanto amor
E tão pouco tempo pra amar.
Viver é fácil,
Qualquer um pode amontoar dias
Encher gavetas de fotos baratas
Trocar a cor dos cabelos por vil metal
E esperar a morte pra conhecer de perto a paz.
Mas amar é difícil.
Porque o amor faz de cada dia um novo nascer
Não tira fotos, enche a vida de obras de arte
E troca a cor dos cabelos por esperança
De conhecer paz antes do fim.
Porque a morte de quem ama,
Não acaba com sua vida.
Porque a vida de quem ama,
Continua sempre em alguma alameda feliz
Entre qualquer coisa de céu.
Ou entre qualquer coisa de mar.


Jaisson
Set. 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Poema do historiador



Aquele que vive de flertar o tempo
Guarda os anos nos bolsos
Sofre o arder dos séculos nos olhos
Mastiga as estruturas de vidas inteiras
E engole a seco.

Digerir o pretérito demora
O tempo é um prato pesado
Jogar com a vida num tabuleiro de idéias
É o grande privilégio
De brincar com os anos
Envelhecendo junto com o passado.
Viver muitas centúrias em dias
E sair vivo
Pra contar a história.


Jaisson
Set. 2008
(a todos que partilham comigo essa vida necrófila)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Poetas



Os poetas erram.
Mas seus cantos não podem ser refeitos.
Eis a grande dádiva de um verdadeiro bardo!
A sua maior prova de fogo
É encarar sua própria poesia
Achando seus desacertos,
Sem charlar muito.

Nem todas as almas merecem poemas
Algumas os cobiçam,
Outras gostam de pisá-los.
Mas o poeta grande é sempre cego
E assim que deve ser,
Porque o poeta só envelhece
Quando lê a si mesmo
E começa a contar o tempo
Não mais em lustros ou eclipses
Mas em versos
E boas metáforas.


Jaisson
Set 2008

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Derradeira chamada para aquele que se vai


Corre mãe!
Avisa o pai!
O amor está cantando
Pra subir,
Bateu os tacos das botas,
Lá se vai,
Tá arrumando os estribos,
O tique-taque vai clarear o dia
O olho do sol vai apontar.
O cristão tá com as horas contadas,
E todos já o estão avisando
Que morrer
Não dói.


Jaisson
Agosto 2008
(lembrando uma frase de um dos grandes poetas da música brasileira, já que o amor está por um fio mesmo...)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Flor do rei



Sob teu pólen cantaram os homens do Sol
Nos arrabaldes de tantas manhãs assoalhadas
Cânticos soprados pelas rédeas de braço
Em sina sem época, lavada pelas madrugadas...

Em direção ao peito desatento
Tuas pétalas são as flechas de arqueiro
Mansamente apontadas, sem clemência
Levando na ponta três gotas de amor.

A providência te fez brotar
Primavera perene, estrela lírica e viçosa
Fazendo do dia claro seu único mantimento.

Pretérita beleza da sapiência heráldica
Flor-mãe das criaturas de Deus,
Imagem da humanidade aos pés do sol,
Que não principiou
E não há de jamais fenecer.


Jaisson
Agosto 2008.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Em 7 dias morrerá o amor



O amor engasgou
Bebeu muito ligeiro
Eu avisei!
Trago de paixão é amargo,
Desce ardendo,
Capaz de matar vivente tão moço!

Chamem os paramédicos,
Ele teima em não respirar,
Não há padre nem corneteiro
O amor quer é um beijo
Bicho vivido que é.

O amor está a se esvair,
O coração é um trem parando,
Em vazia estação.

O vigário desistiu,
O doutor desenganou
Tudo está lascado
Disse o cético pastor.
A cigana o cobrou,
A polícia? (ainda não veio)
Os bombeiros alegraram a noite
Mas sem fogo nada se pode apagar...

E lá no fundo a tia Joana
(que é mãe sabia e decorosa)
Disse sem dó:
Mandem chamar aquela moça!
Sem beijo, não há mais o que fazer.
Porque sem o caldo daqueles lábios
Dou sete dias no más
E podemos enterrar e benzer.


Jaisson
Agosto 2008

Cantiga de morrer



Tudo que nasce, morre
Disse o sábio doutor.
Bicho, bandido e saudade
Pedra, sapato e amor.

Uns morrem de maldade
Alguns morrem até de dor
Tem os que morrem de idade
Outros de chumbo voador...

Maria morreu cantando,
José morreu de sonhar
A vontade morre no abraço
O amor morre no mar.

E eu hei de morrer
Mordendo a vida devagar
E lá no epitáfio vão ler:
Descansa aqui um poeta sem par.


Jaisson
Agosto 2008.


domingo, 10 de agosto de 2008

Terapêutica do amor só



Muitas pessoas acham que a paixão só é prazerosa quando correspondida, quando há reciprocidade e um relacionamento se cria. Uma visão tacanha e ingênua, socialmente repetida e confirmada pela pieguice simplista que impera nesse mundo às avessas.
Nessa visão, os amantes que não recebem de volta todo o apreço que explode de seus corações acabam em depressão, em tristeza vã, ou mesmo em atos ainda mais irracionais, como tentar pôr fim na própria existência ou na de outrem. Realmente lamentável.
Eu vejo as coisas de forma radicalmente opostas, porque tomo-as na raiz: estar apaixonado é mais do que simplesmente desejar a correspondência do afeto. É sentir-se vivo, antes de tudo. A paixão, que é um sentimento tão explosivo quanto efêmero, deixa pouquíssimas coisas, porque sua essência é a capacidade de passar como o vento; e talvez uma das coisas mais importantes que ela deixa é justamente a sensação de um dia termos nos sentido mais vivos que a própria vida em si. Explico-me.
A melhor fase da paixão é aquela na qual nos apaixonamos por nós mesmos: o outro não é o outro, mas um doce e sugestivo querer meu, uma projeção infindável de qualidades que eu vou tecendo habilmente sem o uso da razão, desejos que afloram em mim, sonhos que vou criando, futuros que almejo. Nada disso está fora de nós (desculpe a sinceridade, mas realmente nada disso está no outro) e, portanto, nessa fase, estamos, mais do que tudo, apaixonados por nosso próprio reflexo projetado no espelho alheio. E, se soubermos viver às claras essa paixão – independente se haverá ou não uma efetivação de um relacionamento – teremos aproveitado cada um desses devaneios, teremos amadurecido, teremos aumentado nossa capacidade de sonhar e querer e, finalmente, teremos aprendido mais sobre nós mesmos. E viver essa paixão às claras significa não reprimi-la por saber-se não atendido; significa não escondê-la do mundo e não negar ao outro o que verdadeiramente somos e desejamos, por um inútil medo de parecer bobo, romântico ou um doidivanas masoquista.
Isso é saber que a vida é um processo, muito dialético por sinal. E o vir-a-ser nada mais é do que um cordão amarrado em nosso próprio tornozelo. E, se nada pode mesmo ser eterno, qual o problema que pode haver em viver à flor da pele uma paixão sonhada só? Afinal, não será exatamente isso que significa, lá no final de tudo e de todos, esse tal de bem-viver?

Jaisson
Ago 2008.

(breve pausa de alguns compassos para a prosa)


Tiros de braça em corda



Teus olhos têm o silêncio
Do dó daquele que ouve
A sina de homem perdido
A dor do sobejamente belo.

O destino carregas atravessado
Como mala-de-garupa rota
À tira-colo do devir e remendada de trapilhos
De recordação.

De ti não sei nem o fado
Maltrapilho eu sou
Guri sem prenda, nem prendas-lides.
Poesia rouca de pouca viragem
Cantiga feita em lenta moagem.

São cordas de estribo
Cordas que sustentam milonga
Regalos bandidos
Arpejos de justa delonga
São claros e altos sibilos
São cellos cultuando Vênus de Milos
Chorando a velha estação que se alonga.

Vem cá dose de mel campesino
Cura minha ferida
Faz do meu peito nosso amálgama
Faz desse tempo nosso uma praga
E desse toque acanhado
O amor que se ouvirá entoado
Na ventania que faz do inverno, adaga.


Jaisson
Agosto de 2008
(ventos que cortam sós, com um leve toque xucro)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

História (de amor?) de um amigo.

Matreiro, às espreitas,
Lá vem o ladrão da vida
Alcoviteiro dos desejos
Que cintilam nas almas mortais.

Na cabeça um chapeuzito!
Ele anda de suspensórios
O amor é retrógrado,
Porque afinal não acata o tempo.

Nos receios libidinosos
Rios de gasolina
Ele cospe centelha
Queima sisudos cercados de corações cerrados.

O amor é cineasta do sentir
Sentir-se vivo, sentir-se incólume
Junta trapinhos de linho
Tece assim a prata dissonante da primavera.

Viva o amor!
Amados eternamente amantes,
Até no seio do inferno, meu bem.

Viva o amor!
Sol beija a face da lua, de tardinha,
É a canção do universo, meu bem,
Cantiga que tropeia os viventes,
Caldo alegre que se toma na própria casca!

Ah! Corre atrás dele quando ele fugir,
(ele gosta de fugir e corre feito louco)
Não te aflijas, cata uma pedrinha
Mira bem,
Pimba! O amor emborcou-se feito siriguela,
É só juntar e comer de lambuzo.

Viva o amor!
(porque se não o viveres, serás tu que não viverás.)


Jaisson
Ao amigo Chico.
Agosto, 2008.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Folhas e tempo

O tempo nem sempre é pedra
As vezes ele me parece como uma folha seca.
Que você encontra jogada no chão
E com cuidado vai moldando desenhos, estrelas, paixões...
E moldamos a nós mesmos.
Mas há quem simplesmente pise ou ignore as velhas folhas
E há quem salte pra dizer que precisam ser varridas.
Ora, esses talvez nunca entendam meu verso.
E talvez não entendam verso algum.
O que importa?
Quando há as almas belas que fazem da vida uma grande galeria de obras de arte!!
Mesmo que usando apenas folhas secas...


Jaisson.
Em alguma vez,
À Daniele,
Amiga. Irmã.

domingo, 3 de agosto de 2008

Eu.



O tempo esta pingando.
As gotas correm uma pra chegar mais depressa que a outra.
Lançam-se para virarem névoa da consciência.
Nós as contamos, sem anotar.

Vivemos na planície lisa, mitigada pelos séculos
Mas lá ao fundo vemos a cordilheira
Vemos poeira fina, poeira branca de chuva vindoura
Tempestade sem som
Que inebria e apavora de dia,
Mas nos aquece e desperta o desejo noturno.

E terei de revelar:
Só se vive depois de se fazer
Essa lenta e dorida escolha:
E tu, que serás?
Contemplai os desenhos vivos
dos travesseiros macios do céu?
Ou vais jogar-te em peito nu
pra ver que eles não são mais que um punhado de léu?

Se ficares, os pingos do tempo
Cairão como cera inflamada em teu dorso
E as cicatrizes hão de te ensinar que
Viver para olhar é simplesmente
Olhar sem viver.

Se te jogas irmão, não há conjecturas
Não há sentenças, não há lições
Se te jogas ao fundo, só tu saberás
Que viajar no rio de Heráclito,
É saber que nada há para além
Daquilo que queres chamar “eu”.


Jaisson
Ago 2008.
(Correndo ao desfiladeiro)

Recôncavo poético no divã



Fez do meu quarto um oceano,
E não me ensinou a nadar.
Mar seco, no qual correm só sonhos
Reverberando na orla...
(sublimação?)
Calmos dias e tênue brisa,
Grossas noites de tormenta
Feitas de raios e recuerdos.

Esse pélago azul do passado
Há de acabar um dia?
Em qual ilha te encontrarei
Para cortarmos troncos verdes
(esperança ou saudade?)
E fazermos uma jangadinha
De cipós frouxos
(desejos?)
Que nos levará sobre o molejo molhado
Até o porto mais próximo
do horizonte de nós mesmos?
(id, ego ou superego?)


Jaisson.
Noites de mar.
Porque há coisas que simplesmente não.
(sem verbo e portanto sem ação.)

sábado, 26 de julho de 2008

Eidos


A poesia é o riso
De um mundo austero,
Que quer ser sério,
Mas não é.

Por isso só ela é verdade
Porque ela sabe ser agonia e desejo
Não quer esconder-se da opinião
Quer ser o sarcasmo que zomba dos tolos.
Quer ser a lã terna que acolhe
A ingênua lascívia do verdadeiro querer.

A poesia não julga e nem condena
A poesia não tem lado,
Seu alimento
É a seiva crua e suculenta
Do existir.

Para a poesia não há mais
Do que o inverno que incendeia
A flor de todas as peles desnudas
Com suas brincadeiras de toque
Que fazem parar a roda do mundo
E navegam no suor insano
De mares virulentos,
Sugando as ondas
do pulsar dos corações libertos
e livres da prisão noturna
Vigiada pelos olhos alheios
Dos que não sabem arder.


Jaisson
julho de 08
(livre como o Ser que é.)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Jardineiro dos Egos


Sou braço que revira terra,
Colhe ramas,
Lança sementes
De discórdia nos egos alheios.

Piso, arremato.
Arranco erva-braba,
Rego begônias
Aparo capim-do-mato.
Pra não deixar crescer muito
As Flores de desejo cru
Nascidas no febril regato.

Caço pragas daninhas
Deleites, gozos e traumas.
Cisco e capino o terreno
Onde o temor vira veneno
Onde o suor vira sabor.

Cavo o nervo da tua dor
Lá no fundo jogo cal.
Desenho rimas cheirosas
Com a pá de corte
Pra não te deixar à mercê da morte
Nos canteiros encantados
Dos teus sonhos desavergonhados
Tão nus.

Sou jardineiro
Coveiro
(alcoviteiro?)
Super
Ego
Eu.


Jaisson
(irrequieto)
2008-07-24

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Coração de poemas e dores

Só espíritos canhestros perdem ao compartilhar.
O meu, porém, é vasto.
Cabem amores e desamores.
Poemas e dores.
Um rastro.

Qual desses é o teu?
Aquele que se doa ao cantar
Ou o que canta ao doer?

Eu sou tristeza, mas não mágoa.
Tenho sorte, tutano e trovão.
Em mim a noite acalenta e deságua,
No espaço vasto do meu coração.

Jaisson
(Drummond, café e desamor.)

Pudim de borboletas II

Borboletas não são digeríveis,
Permanecem doces até o último trago
E por isso me causaram embrulhos na alma.
Arranquei uma por uma,
Regurgitei até que eu ficasse novamente livre
E pudesse respirar vaporoso novamente.
Dessa vez com os pés chumbados no chão.
Porque só os seres que não amam, voam.
O amor é um fardo pesado que borboletas não podem carregar.


Jaisson.
(amargo, mas pelo menos livre das borboletas)
2008-07-23.

Tratado do quase-amor

Que achaste lá moça serena?
Nessas entranhas de solidão em que te embrenhaste?
Memórias cálidas?
Amores descompassados?
Realmente passados?
Encontraste abrigo
No seio escuro do ego, minha menina?

Quando fechaste as cortinas do coração aos incautos,
Esqueceste de sair à pedra pra tomar teu sol
Ficaste tão brumosa que
Cansei de colorir-te em minhas ambições
Como aquarela ensopada,
No cetim macio.

Quando foi que deixaste pra trás
Todo calor que vi nascer
Na margem branca do teu sossego
Na superfície cáustica do teu afago?

Cansei de espremer as pedras da tua alma
Elas não têm mais nenhum sangue.
Sei que ficarei sedento então,
Do suco em que naveguei meu amor até a ponta dos teus pés.

Digo-te sincero,
Meu peito haverá de ser uma enseada plana e deserta agora,
Pois o mar levou em suas plumas
Aquele beijo irrequieto e tenro
Que desde há muito eu guardava
Pra te colher como se colhe flor morna e orvalhada.

Plantei com olhares e versos
No útero do teu sonhar,
Tantas redomas, incontáveis metáforas...
Mas agora sei, ele é cerrado.
E vil como todo o quase-amor
Que de mim um dia poderias ter sabido só teu.


Jaisson.

domingo, 20 de julho de 2008

Modinha



Só tenho um único amor,
Tão unicamente perfeito que não quer
Esse meu amor único,
Que passa passando
Vivaz e sonhando
Com vôos que só se fazem
A pé.


Jaisson
(lambendo o brilho da chuva)
Maio 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Gotas de amor e poesia.


Mãos gélidas
Leves
Trêmulas e sem sol.
Em suas palmas versos
Amaciados de suor.
No peito um reator
Bombeando rimas
Para ninar-te em meu seio
De palavras.

Cais do porto
É a tragédia de amar
Onde só teu corpo é
Leito crépido de águas
No qual corro a nado
Canso, soluço
Morro.

Aí então sou só uma concha
Útero de vida agora desabitado,
Imóvel, insolúvel, pedra de sereia
Guardando o mar em seu âmago
Como poetas
Que de tão vivos morrem em silêncio
E guardam seus amores
Entre metáforas e reticências.


Jaisson
(Seguindo o nosso inevitável destino: amor sem conta)
Julho 2008



quinta-feira, 17 de julho de 2008

Poesia feliz

Hoje o cantor arranhou as cordas do tempo
É tempo de termos tempo pra vida
Abrir cada janela da alma
E renovar o repertório do espetáculo:
Nosso espírito.
Corre a lua sem tardar
Foge pois,
Já que ele tem fogo e furor
Em todas as cores que habitam seu céu.
Recolhe os cestos do quintal,
Esparrama-te ao choro invertido do mar
Que choverá pra sempre em teus olhos!
Vai logo moço, chama para teu palco
Tempestades de afagos,
Clarões de sinestesia,
Relâmpagos de gozo,
Os ventos tornados do nosso toque acidental!
E enfim, depois da sinfonia
a calmaria que tombará em ti
Quando do teu peito aqueles lábios
Souberem-se donos
E genitores soberanos.


Jaisson
Julho 2008-07-17
(bem-viverista simplificadorista)

sábado, 12 de julho de 2008

Areia bordada


Antes de o teu doce cair em meus pobres olhos vãos
Soprei brisa em maré-manhã bordada
Sentado à luz desvalida
Em fogueira de palha e canção.

Nosso encontro agora é contingência, desconsequência
A nossa noite é porém necessária, constância infinda,
Varanda aberta e branda no seio do cataclismo.


Jaisson
(ao abrigo do único universal que move o mundo)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Pudim de Borboletas

Acabei de comer um pudim de borboletas,
Vivas
Que já em minhas entranhas me fazem alçar vôos
Vorazes
Exatamente como um certo par de olhos negros por aí
Com os quais tenho ocupado as últimas horas
da eternidade dos meus sonhos
querendo roubar-lhes o brilho
para pintar murais de mosaico colorido.
que hão de cegar o sisudo capataz de sobrenome Tempo
E colocar-me no centro da selva em chamas.

Jaisson.
(Nenhum minuto a mais do que agora)

sábado, 5 de julho de 2008

Nada pode pertencer

Ficar triste é só capricho, baby
Amor é só uma ingênua invenção
Pra aliviar a culpa de projetar-se em alguém...
Diversão do Ego...

Caro Id, agora eu posso te entender
Pulsando para extravasar tantas rejeições...
Encarando sempre com cara amarga
Aquele eu-mosaico que vem lá de fora...

Queres ganhar estrelas e menções
Mas esqueceste que nada pode ser teu
Além desse delicado Ser que não é mais.
E que é tu que pertence ao mundo,
E nunca será ao contrário

A tua certeza, teu desejo e teu apreço
Eu lhe digo menina,
Corroem tua carne enquanto teu espírito sublima
Em argumentos, vontades e preconceitos
E assim é que podes ser
Polindo espelhos que costuma chamar de amigos.
E acabando-se em instintos que costuma chamar paixão.


Jaisson.
(hoje mais niilista do que nunca)
5/07/08

domingo, 29 de junho de 2008

Melpômene

A lança viva dos teus olhos pardos
Teima em repetir-se em ferida no meu peito
Impávida, envenenada
Como a cicuta doce que escorre
Das sílabas que mansamente dizes em meu ouvido
Sempre que me acabo em sonhos.

E a chaga aberta não sara.
Dela saem desejos, sublima toda a esperança.
Vai, foge fúria, leva contigo esse pesar!
Todo esse amor inflamado,
Que de tão quieto é doído que só
E de tão só dói
Quieto.

Silenciam as Musas sobre a algazarra que faço,
A sereia dorme, e tão leve é o brilho que lhe cobre!
Macias escamas de porcelana chinesa,
A estilhaçar o sol na pele fina do mar.

Nem Zeus mais te arranca os fios da luxúria,
Tens a todos que pra ti olham, Euterpe!
Homens morto-vivos, escravos teus.
Ainda tenho o direito de pensar em ti?

E bem no fundo do palco vazio
Ouve-se apenas o ledo deboche
Daquela cujos coturnos cor-de-tragédia,
Têm desenhado cada passo do meu coração.
(Melpômene)


Jaisson.
Jun.2008

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Explicação do blog:


A noite: do Lat. Nocte s. f.: espaço de tempo entre o crepúsculo da tarde e o crepúsculo da manhã; escuridão; trevas; noitada; fig: mistério; cegueira; tristeza, sofrimento; poét.: trevas do espírito, ignorância.

O Id: O id (que literalmente significaria “isso”) é o termo usado para designar uma das três instâncias do aparelho psíquico na segunda tópica das obras de Freud. Possui equivalência com o que seria o inconsciente da primeira tópica embora os dois conceitos apresentem sentidos diferenciados.Constitui o que seria o reservatório da energia psíquica, onde estariam as pulsões. Faz parte do aparelho psíquico da psicanálise freudiana de que ainda fazem parte o ego e o superego. Enquanto o superego teria a função de repressão dos instintos e pulsões (principalmente sexuais), com um conteúdo moral, o id seria o responsável pela pulsão crua e irrefletida. O Ego seria, em termos gerais, a mediação do eu da balança entre essas duas outras instâncias.

Eu: Ainda procurando uma definição apropriada. (se é que existe uma).

A noite + O Id + Eu = Um bloguezinho de poemas.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Parada


Pára perto da parada

O homem feio sobre

Uma criança magra desce,

A velha vomita suas memórias na janela

O cheiro é insuportável.

Ninguém vê.

E a vida segue vivendo,

E eu esperando o ponto certo

Para desembarcar

E mudar a mim mesmo.