sábado, 26 de julho de 2008

Eidos


A poesia é o riso
De um mundo austero,
Que quer ser sério,
Mas não é.

Por isso só ela é verdade
Porque ela sabe ser agonia e desejo
Não quer esconder-se da opinião
Quer ser o sarcasmo que zomba dos tolos.
Quer ser a lã terna que acolhe
A ingênua lascívia do verdadeiro querer.

A poesia não julga e nem condena
A poesia não tem lado,
Seu alimento
É a seiva crua e suculenta
Do existir.

Para a poesia não há mais
Do que o inverno que incendeia
A flor de todas as peles desnudas
Com suas brincadeiras de toque
Que fazem parar a roda do mundo
E navegam no suor insano
De mares virulentos,
Sugando as ondas
do pulsar dos corações libertos
e livres da prisão noturna
Vigiada pelos olhos alheios
Dos que não sabem arder.


Jaisson
julho de 08
(livre como o Ser que é.)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Jardineiro dos Egos


Sou braço que revira terra,
Colhe ramas,
Lança sementes
De discórdia nos egos alheios.

Piso, arremato.
Arranco erva-braba,
Rego begônias
Aparo capim-do-mato.
Pra não deixar crescer muito
As Flores de desejo cru
Nascidas no febril regato.

Caço pragas daninhas
Deleites, gozos e traumas.
Cisco e capino o terreno
Onde o temor vira veneno
Onde o suor vira sabor.

Cavo o nervo da tua dor
Lá no fundo jogo cal.
Desenho rimas cheirosas
Com a pá de corte
Pra não te deixar à mercê da morte
Nos canteiros encantados
Dos teus sonhos desavergonhados
Tão nus.

Sou jardineiro
Coveiro
(alcoviteiro?)
Super
Ego
Eu.


Jaisson
(irrequieto)
2008-07-24

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Coração de poemas e dores

Só espíritos canhestros perdem ao compartilhar.
O meu, porém, é vasto.
Cabem amores e desamores.
Poemas e dores.
Um rastro.

Qual desses é o teu?
Aquele que se doa ao cantar
Ou o que canta ao doer?

Eu sou tristeza, mas não mágoa.
Tenho sorte, tutano e trovão.
Em mim a noite acalenta e deságua,
No espaço vasto do meu coração.

Jaisson
(Drummond, café e desamor.)

Pudim de borboletas II

Borboletas não são digeríveis,
Permanecem doces até o último trago
E por isso me causaram embrulhos na alma.
Arranquei uma por uma,
Regurgitei até que eu ficasse novamente livre
E pudesse respirar vaporoso novamente.
Dessa vez com os pés chumbados no chão.
Porque só os seres que não amam, voam.
O amor é um fardo pesado que borboletas não podem carregar.


Jaisson.
(amargo, mas pelo menos livre das borboletas)
2008-07-23.

Tratado do quase-amor

Que achaste lá moça serena?
Nessas entranhas de solidão em que te embrenhaste?
Memórias cálidas?
Amores descompassados?
Realmente passados?
Encontraste abrigo
No seio escuro do ego, minha menina?

Quando fechaste as cortinas do coração aos incautos,
Esqueceste de sair à pedra pra tomar teu sol
Ficaste tão brumosa que
Cansei de colorir-te em minhas ambições
Como aquarela ensopada,
No cetim macio.

Quando foi que deixaste pra trás
Todo calor que vi nascer
Na margem branca do teu sossego
Na superfície cáustica do teu afago?

Cansei de espremer as pedras da tua alma
Elas não têm mais nenhum sangue.
Sei que ficarei sedento então,
Do suco em que naveguei meu amor até a ponta dos teus pés.

Digo-te sincero,
Meu peito haverá de ser uma enseada plana e deserta agora,
Pois o mar levou em suas plumas
Aquele beijo irrequieto e tenro
Que desde há muito eu guardava
Pra te colher como se colhe flor morna e orvalhada.

Plantei com olhares e versos
No útero do teu sonhar,
Tantas redomas, incontáveis metáforas...
Mas agora sei, ele é cerrado.
E vil como todo o quase-amor
Que de mim um dia poderias ter sabido só teu.


Jaisson.

domingo, 20 de julho de 2008

Modinha



Só tenho um único amor,
Tão unicamente perfeito que não quer
Esse meu amor único,
Que passa passando
Vivaz e sonhando
Com vôos que só se fazem
A pé.


Jaisson
(lambendo o brilho da chuva)
Maio 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Gotas de amor e poesia.


Mãos gélidas
Leves
Trêmulas e sem sol.
Em suas palmas versos
Amaciados de suor.
No peito um reator
Bombeando rimas
Para ninar-te em meu seio
De palavras.

Cais do porto
É a tragédia de amar
Onde só teu corpo é
Leito crépido de águas
No qual corro a nado
Canso, soluço
Morro.

Aí então sou só uma concha
Útero de vida agora desabitado,
Imóvel, insolúvel, pedra de sereia
Guardando o mar em seu âmago
Como poetas
Que de tão vivos morrem em silêncio
E guardam seus amores
Entre metáforas e reticências.


Jaisson
(Seguindo o nosso inevitável destino: amor sem conta)
Julho 2008



quinta-feira, 17 de julho de 2008

Poesia feliz

Hoje o cantor arranhou as cordas do tempo
É tempo de termos tempo pra vida
Abrir cada janela da alma
E renovar o repertório do espetáculo:
Nosso espírito.
Corre a lua sem tardar
Foge pois,
Já que ele tem fogo e furor
Em todas as cores que habitam seu céu.
Recolhe os cestos do quintal,
Esparrama-te ao choro invertido do mar
Que choverá pra sempre em teus olhos!
Vai logo moço, chama para teu palco
Tempestades de afagos,
Clarões de sinestesia,
Relâmpagos de gozo,
Os ventos tornados do nosso toque acidental!
E enfim, depois da sinfonia
a calmaria que tombará em ti
Quando do teu peito aqueles lábios
Souberem-se donos
E genitores soberanos.


Jaisson
Julho 2008-07-17
(bem-viverista simplificadorista)

sábado, 12 de julho de 2008

Areia bordada


Antes de o teu doce cair em meus pobres olhos vãos
Soprei brisa em maré-manhã bordada
Sentado à luz desvalida
Em fogueira de palha e canção.

Nosso encontro agora é contingência, desconsequência
A nossa noite é porém necessária, constância infinda,
Varanda aberta e branda no seio do cataclismo.


Jaisson
(ao abrigo do único universal que move o mundo)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Pudim de Borboletas

Acabei de comer um pudim de borboletas,
Vivas
Que já em minhas entranhas me fazem alçar vôos
Vorazes
Exatamente como um certo par de olhos negros por aí
Com os quais tenho ocupado as últimas horas
da eternidade dos meus sonhos
querendo roubar-lhes o brilho
para pintar murais de mosaico colorido.
que hão de cegar o sisudo capataz de sobrenome Tempo
E colocar-me no centro da selva em chamas.

Jaisson.
(Nenhum minuto a mais do que agora)

sábado, 5 de julho de 2008

Nada pode pertencer

Ficar triste é só capricho, baby
Amor é só uma ingênua invenção
Pra aliviar a culpa de projetar-se em alguém...
Diversão do Ego...

Caro Id, agora eu posso te entender
Pulsando para extravasar tantas rejeições...
Encarando sempre com cara amarga
Aquele eu-mosaico que vem lá de fora...

Queres ganhar estrelas e menções
Mas esqueceste que nada pode ser teu
Além desse delicado Ser que não é mais.
E que é tu que pertence ao mundo,
E nunca será ao contrário

A tua certeza, teu desejo e teu apreço
Eu lhe digo menina,
Corroem tua carne enquanto teu espírito sublima
Em argumentos, vontades e preconceitos
E assim é que podes ser
Polindo espelhos que costuma chamar de amigos.
E acabando-se em instintos que costuma chamar paixão.


Jaisson.
(hoje mais niilista do que nunca)
5/07/08