sábado, 31 de julho de 2010

Poesia e senso-comum II

A cada verso boêmio cantado,

Cem bordões inúteis à vida.

Um soneto arrumadinho, engravatado

A cada mil conversas fiadas.

Nasceu um poeta suburbano na noite!

Mas o infeliz não tem nome, nem gosto...

De que vale ser poeta

Quando a poesia barata de cada dia

Já não mais denota o esteta

Na labuta ingrata da Sofia?

Os poetas continuam correndo contra o tempo,

Pois os versos falham, embora não tardem mais...

Em uma época em que as antologias poéticas,

Peludos volumes de papel sedoso

São o útil e áspero banquete

Entregues à voracidade leitora

Dos velhos bichos-de-prata.

Sentinela


A noite se impõe

Ainda que teu peito em vão desespere

Das luzes ofegantes, trêmulas

Do suor escaldante, recompensa

Ao dia que tuas próprias mãos revolveram.

Essa noite (aquela que se vive só)

Revela do teu dentro a moldura

Ao dar de comer aos teus ódios o silêncio

Em que tão somente o corpo.

Se impõe

Lava teus olhos, riscados sol à sol

Nesse escuro molhado

Da tua treva particular

Faz das retinas fatigadas

O altar das tuas dores,

Nesse antro de todos os mundos

Em que a vida se impõe.



Jaisson

Jul /2010.