domingo, 29 de junho de 2008

Melpômene

A lança viva dos teus olhos pardos
Teima em repetir-se em ferida no meu peito
Impávida, envenenada
Como a cicuta doce que escorre
Das sílabas que mansamente dizes em meu ouvido
Sempre que me acabo em sonhos.

E a chaga aberta não sara.
Dela saem desejos, sublima toda a esperança.
Vai, foge fúria, leva contigo esse pesar!
Todo esse amor inflamado,
Que de tão quieto é doído que só
E de tão só dói
Quieto.

Silenciam as Musas sobre a algazarra que faço,
A sereia dorme, e tão leve é o brilho que lhe cobre!
Macias escamas de porcelana chinesa,
A estilhaçar o sol na pele fina do mar.

Nem Zeus mais te arranca os fios da luxúria,
Tens a todos que pra ti olham, Euterpe!
Homens morto-vivos, escravos teus.
Ainda tenho o direito de pensar em ti?

E bem no fundo do palco vazio
Ouve-se apenas o ledo deboche
Daquela cujos coturnos cor-de-tragédia,
Têm desenhado cada passo do meu coração.
(Melpômene)


Jaisson.
Jun.2008

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