segunda-feira, 2 de junho de 2008

Reflexões sobre as rimas mais caras ao amor

Devagar vamos aprendendo que somos seres famintos por rimas de amor: Quando amamos, admiramos e ao mesmo tempo rejeitamos todos os monstros do outro; Se somos profundamente amados, criamos um mar de indiferença e nos separamos daquele (a) que loucamente segue nosso passo; Se desprezados, choramos todas as mágoas do mundo em um martelinho de melancolia que espicha ainda mais o amor que não devíamos cultivar.
Talvez o nosso grande carma, e ao mesmo tempo dádiva, seja essa característica de sermos seres que conseguem criar sempre novas vontades para manterem-se vivos. O ser humano vive porquanto deseje, e, ao realizar desejos, cria logo outros novos. É a eterna busca por um estado pleno que nunca pode ser alcançado. E assim é com o tal amor.
De forma pueril, nos encorajamos em buscas quase sempre infecundas pra encontrar “a metade da laranja”, “o verdadeiro amor”, “o príncipe ou princesa encantada”. E o pior é que, mesmo sabendo que tudo isso é um grande embuste, ainda permanecemos presos a todas estas pieguices. Talvez este seja um texto racional demais, poderão dizer todos os falsos românticos. Estes, não raras vezes, contentam-se em imputar a toda e qualquer situação amorosa os velhos bordões do tipo “não posso mandar no meu coração” (uma metáfora que em termos freudianos poderia ser vista como um mecanismo de defesa do ego, a assunção da própria incapacidade de controlar os rumos da própria vida) ou ainda “fomos feitos um pro outro” ou “alma gêmea” (duas aberrações em termos de historicidade, já que ninguém é concebido com seu respectivo par, que estaria perdido como um eldorado em algum lugar do planeta).
E imaginamos tudo isso por uma simples razão: precisamos criar essas narrativas para agüentar o peso de uma existência desconexa. Afinal, o que seria do mundo se todos tivessem a plena consciência dessa impossibilidade de completude, da falácia da felicidade e do engodo que criaram (e chamaram amor) para dizer que temos de buscar alguém que seja a nossa suposta metade que se extraviou por aí? O que seria de nós se de uma hora pra outra perdêssemos esse nosso referencial simbólico e nos descobríssemos seres plurais, descentrados e apenas soltos ao léu e ao acaso nessa brincadeira de roda que é a vida?
É difícil dizer assim, em um textinho bobo. Mas posso provocar: Não seria bom que finalmente nos déssemos conta que amar, mais do que qualquer outra coisa, é (re)conhecer(se)?

Jaisson
Junho de 2008

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