domingo, 20 de abril de 2008

Qualquer canto

Tenho mil frases engatilhadas no fundo dos bolsos
Remexidas sim, carcomidas do tempo
Umas densas e robustas, outras enferrujadas
E algumas poucas ainda bem afiadas
Pra cortar meu próprio pescoço
No acaso de um incêndio da alma.

Todos estão dançando, e a seda leve do seu vestido
Espuma feito mar gelado
Congelando naquela porção de segundos
A dor que em muitos anos me fiz erguer,
Ferro a ferro, marcando nas costas
A sina de querer o que elas escondem atrás das pupilas.

Mas bobo eu danço, repico, suspiro
Trago a vida nas pontas dos pés, marcando bem o passo
Pra não esquecer que esse chão crasso
Está embaixo de mim, observando meu andar
Querendo controlar meus pontos-de-fuga
E me deixar menor que o verso que somente diz
Só.

Em qualquer canto acho paragem
Pra fazer ferver até o ar,
Cantos sujos e traiçoeiros,
Cantos leigos e bem aprumados
Longe daqueles olhos que parecem um dueto de harpas
Perto daquele coração que não bate, solfeja
Qualquer canto sei fazer,
Em qualquer canto sei viver.


J.
Mar 2008.

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