domingo, 20 de abril de 2008

O Ser hodierno.

Desvenda os nomes gravados neste muro José,
Porque cada um desenhou pequenos recortes dos teus dias
Cada rejeição e utopia,
Cada sensação, ah Sofia!
Fogo caudaloso que te cortou e costurou,
Com frágeis pavios de memória
Terra adentro, pedras desse sertão de outrora
Chão rachado sem jeito, sem alma e nem ilusão
Tudo isso, caro companheiro, é o que te fez homem
Pois só podes viver a reboque dessas migalhas de passado.

Teu chocalho rangeu, estremeceu o peito
Clamando pela incoerência que teu ego só queria fazer acalmar.
E os planos para o desencanto
Ficaram sempre à mercê desse eixo que parecia tão firme
Tão simétrico, exalando ares impávidos e espartanos
Por dezenas de lustros, impiedoso,
Sujeito nunca sujeito a nada.
Uno.

Mas que fazes hoje Aquiles?
Além de ser esse pífio punhado de migalhas e ferrugem
De cacos de si mesmo.
Só o que sobrou,
Do dia em que teu próprio reflexo no espelho
Traiu-te e trincou teu mundo e tua empáfia transcendental,
Deixando-te só um esboço
E mil cacos
Uns de sonhos, outros de desejos, alguns de fome,
Uns de amor, outros de dor, vida, morte e o nada, mas tudo esfarelado.

E agora José?
Irás mesmo querer outros dez mil anos pra tentar juntar tudo novamente?


J.
Abril 2008

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