domingo, 20 de abril de 2008

Os poemas pertencem ao mundo

Tu que te engraças com ares de quem tem o dom da palavra
Esnobas seus pares porque sabes rimar
Esqueceste do mais fundamental,
Que os poemas que tanto te enchem o ego
Não são teus, nunca foram e nunca se renderão aos teus caprichos
Porque poemas não têm donos, placas, números, ou coleiras
Eles são a única coisa realmente livre nesse mundo
Porque só pertencem ao mundo.

Cada palavra devidamente encaixada,
Cada refrão que se repete,
Não nascem em tua alma, nascem muito longe dela
Na imensidão da discórdia diária da existência
No calor intenso sob teus pés,
Na água densa que chove em tua janela,
Na indiferença de se saber humano.
De tudo isso é que nascem estes teus versos,
Eles nascem soltos e apenas por detalhe,
Mera coincidência,
Resolvem aportar em teus cadernos.

A poesia é caprichosa,
Ela pode te querer eternamente,
Mas pode também te usar como se fosse um capacho
Te fazer suar de deleite,
E te abandonar antes que tu acordes da noite de amor
Sub-repticiamente.

Mas não chores ou derrubes paredes por isso.
Apenas deixe que elas possam te ensinar
Dia após dia, lua após lua,
Que és tão eterno como um dente de leão no meio da tempestade,
Que passarás tão rápido que ninguém nem mesmo ouvirá dizer
De ti.
Porém se algum dia tiveres tido a chance de acolher a alguns versos,
Descanse em paz, porque eles sim serão eternos
Continuarão sempre sendo a grande essência do mundo
Todo o mundo,
E em todo mundo.
E terás sido eternizado pela ingênua vontade de poetizar.



J.
Abril de 2008.

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