A Noite, o Id e Eu.
domingo, 16 de dezembro de 2012
Suave
Antes de te ter
Minha alma grita
Ouve-se de tão longe
Rimas vazias.
E por que essa rima não te corta a alma?
De um só golpe,
Ouvirás da tua cama nua
Razão do meu desejo em ti.
Jaisson
Dez 2012
domingo, 9 de dezembro de 2012
Pharmakon
Tomai cuidado amigo,
Nada pode salvar-te da tua própria facticidade...
Entenda as precauções
A alquimia desse espírito aguçado
Com esse olhar afiado
é mistura densa demais.
Quem poderá carregar o peso
de viver ao lado dessa poesia?
Há dias difíceis
Que se tornam bons
No repentino momento de saber-se
contemplado por suas próprias projeções.
Nada disso é receita, amigo
Olhai bem,
Sim, beleza e inteligência fazem
mistura bélica:
O abismo que de tão alto
chama-te a irromper-se
no sem-espaço do nada.
Jaisson
Dez 2012
Àqueles que em vão quiserem me decifrar por essas mal traçadas linhas, afirmo que não sou eu quem faz esses versos. Eles é que fazem a mim.
Jaisson
Dez 2012
(um pouco antes do fim do mundo)
Aos amores improváveis escrevo meus odes
Hei de ser o pior dos poetas graças a eles
Tantos floreios, frases de efeito
Nenhum beijo por tanta afeição desmedida...
Aristóteles me contempla com desprezo,
Muito aquém das suas regras estão os versinhos
Antiquados, improvisados, tão obviamente
Saturados de esperança
Que quase dão, no fim da conta
um meio-amor.
sábado, 31 de julho de 2010
Poesia e senso-comum II
A cada verso boêmio cantado,
Cem bordões inúteis à vida.
Um soneto arrumadinho, engravatado
A cada mil conversas fiadas.
Nasceu um poeta suburbano na noite!
Mas o infeliz não tem nome, nem gosto...
De que vale ser poeta
Quando a poesia barata de cada dia
Já não mais denota o esteta
Na labuta ingrata da Sofia?
Os poetas continuam correndo contra o tempo,
Pois os versos falham, embora não tardem mais...
Em uma época em que as antologias poéticas,
Peludos volumes de papel sedoso
São o útil e áspero banquete
Entregues à voracidade leitora
Dos velhos bichos-de-prata.
Sentinela
A noite se impõe
Ainda que teu peito em vão desespere
Das luzes ofegantes, trêmulas
Do suor escaldante, recompensa
Ao dia que tuas próprias mãos revolveram.
Essa noite (aquela que se vive só)
Revela do teu dentro a moldura
Ao dar de comer aos teus ódios o silêncio
Em que tão somente o corpo.
Se impõe
Lava teus olhos, riscados sol à sol
Nesse escuro molhado
Da tua treva particular
Faz das retinas fatigadas
O altar das tuas dores,
Nesse antro de todos os mundos
Em que a vida se impõe.
Jaisson
Jul /2010.
domingo, 13 de setembro de 2009
Vir, voltar; virar, voar?
Assim também é que os poetas acabam sendo. Se mostram só assim, nessas passageiras luzes bruxuleantes que volta e meia nos pegam desprevenidos nas poesias. E depois somem. Dos poemas e às vezes da poesia também. Esse meu inverno foi assim, quase sem poesia, porque alguns clarões foram tão fortes que me deixaram momentaneamente cego e incapaz de colher borboletas, encontrar as chaves, cultivar begônias...
Esta é uma prova de que a poesia é mesmo manhosa, irrepreensível, indomável. Até mesmo aquelas mais feinhas, que jamais alcançarão um sonho sequer de beleza, como estas que aqui constam em coloridas listas.
A noite está de volta, para aqueles que nela costumam procurar pela vida, ao invés de desistir dela em espasmos.
Jaisson.
O (ser) poeta.
Ser poeta
É ser mais incompleto que o verso que diz:
Um dia serei um grande
Fim.
Vagar sem iluminuras
Nas florestas tão alheias que chegam a ser
De um outro
Mim.
Cantar aberto
As trovinhas discretas baladas que faz
Quando menos se espera
Plim.
Jaisson.
Prelúdio
Sou o pior de todos os prelúdios:
Nada anuncio nessas tristes toadas,
Não antecipo nada melhor que teu silêncio,
E chego sempre tarde demais
Para pegar teu colo
Ardendo.
Jaisson.
Hoje.
sábado, 12 de setembro de 2009
Antídoto.
Desesperados por um caminhar lento, meu
Que lhes confere sentido.
Visto o tempo,
Veste rota, cheiro de alguém que
Talvez até seja eu,
Um dia.
Olho no sem-fim do espelho
A fitar o reflexo
Do último homem que crê
Nos sonhos perdidos
Deste olhar imenso,
Retorcido.
De algumas épocas tendo
Vivido,
O âmbito tenso, daqui a pouco
Olvido,
De tudo que lhe faz
Seu próprio antídoto.
Jaisson.